Indústria do petróleo muda o perfil do Porto de Vitória

Ponto nevrálgico da economia capixaba, termômetro do seu ritmo de desenvolvimento, o porto de Vitória espelha com fidelidade a evolução das atividades econômicas do Estado. E as mudanças registradas na trajetória econômica do Estado do Espírito Santo não têm sido poucas, especialmente a partir da década de 1970, quando se intensificou o movimento que deslocou da agricultura para a indústria o seu eixo principal e, mais particularmente ainda, nos últimos 10 anos, quando a exploração de petróleo, ao concentrar esforços em águas capixabas, em lugar da exploração em terra, ampliou exponencialmente sua presença no Estado e sua participação na geração local de riqueza.

Olhando para a história do porto de Vitória, é possível perceber claramente as etapas dessa evolução. O próprio porto nasceu – oficialmente, em 3 de novembro de 1940, – da necessidade de escoar a produção daquele que foi, por longos anos, o principal produto do Espírito Santo e que figura ainda entre suas principais commodities: o café.

Em 2012, o porto público da capital capixaba movimentou quase sete milhões de toneladas de cargas e produtos diversos, mas nessa lista o café já não é mais a única estrela. Na sequência, a pauta de exportações capixaba foi revelando o processo gradual de diversificação econômica: dela passaram a fazer parte as rochas ornamentais, a celulose, os minerais metálicos e não metálicos e novos produtos agrícolas, como as especiarias, entre outras mercadorias ainda altamente representativas da movimentação portuária do Estado (sem citar, é claro, o aço, as pelotas de ferro e outros produtos que utilizam portos privados para sua exportação).

Assim como a análise das exportações revela a diversificação gradual da economia, o peso crescente da indústria e a forte dependência de commodities primárias, por outro lado um breve olhar para a pauta de importações revela outra característica da economia estadual: o desequilíbrio comercial originado pela preponderância da entrada de produtos acabados, como máquinas, equipamentos, automóveis e outros. Confrontada com a saída de produtos básicos e semimanufaturados, mostra a necessidade urgente de agregação de valor à produção capixaba.

Petróleo e gás na cidade de Vitória, um novo filão para o porto

Problemas à parte, é inegável que o porto tem papel preponderante na economia estadual, solidamente ancorada na atividade de comércio internacional: por ele circula boa parte do PIB do Espírito Santo. Mas, nos últimos anos, tornou-se patente que as instalações portuárias públicas do Estado já não são compatíveis com as necessidades do comércio exterior, que exige navios de grande porte, incapazes de navegar pelo canal de acesso à baía de Vitória, cuja profundidade e largura, mesmo com as obras de ampliação, dragagem e derrocagem atualmente em curso – um investimento de R$ 443 milhões, feito com recursos do PAC –, nunca serão adequadas. Para alguns especialistas, as obras darão uma sobrevida de alguns anos ao porto, mas a tendência seria de que ele se tornasse, futuramente, apenas um porto de cabotagem (navegação costeira, feita por navios de menor porte acompanhando o litoral brasileiro e usada para movimentação de mercadorias de um Estado a outro).





O próprio governador Renato Casagrande, na solenidade de assinatura de contratos de competitividade com a indústria capixaba, realizada no dia 28 de fevereiro no Palácio Anchieta, referiu-se ao porto como um problema: “Na área de infraestrutura, nosso maior problema hoje aqui nesse Estado é o porto. Hoje nós temos dificuldade para competir com outras empresas porque a nossa atracação portuária aqui acaba tendo que ser complementada por cabotagem, e isso encarece a circulação de mercadorias. Esse é um problema que temos e estamos conversando com a Log In, com as empresas do Terminal Siderúrgico e outras, para ver se achamos um caminho para poder reduzir esse custo, porque um porto público novo para carga conteinerizada é para daqui a alguns anos, demora. E nós precisamos resolver essa questão. Temos que ter um novo plano operacional para esse porto, que está recebendo mais de 400 milhões em investimentos, mas esse investimento tem que produzir a possibilidade de navios maiores atracarem aqui. Nós temos que entrar nas linhas dos principais armadores internacionais, essa é uma preocupação importante nossa. O Estado perde competitividade com essa questão portuária”.

No entanto, a ideia de um lento, porém gradual, esvaziamento da importância do porto de Vitória é rejeitada fortemente pelo diretor de Infraestrutura e Operações da Codesa, órgão que administra o porto, Hugo Amboss. Ele aponta a indústria do petróleo e gás como um novo e importante trade a alavancar uma mudança no perfil de cargas do porto e garantir sua alta produtividade, rentabilidade e competitividade.

“Eu não gosto da palavra sobrevida aplicada ao porto, por uma série de razões. Entre elas, porque é reconhecida a importância da indústria do petróleo no Brasil e no Espírito Santo e o crescimento da atividade off shore aqui no porto de Vitória é extremamente positivo. Tanto é que, mesmo com essa crise internacional, nós tivemos alguma queda na movimentação de cargas, mas a queda na receita foi muito inferior à da movimentação de carga, porque a atividade de petróleo cresceu, e o que a gente percebe é que falta área para operar essa atividade. E para essa atividade off shore o porto aqui é altamente atrativo, porque o que essa indústria precisa é um porto abrigado, e o nosso porto é totalmente abrigado; a indústria do petróleo não necessita de grandes profundidades, como é o nosso caso aqui. Então, essa palavra, sobrevida, não se aplica. A vida do porto vai mudar em função do perfil das cargas, isso é natural, e por isso nós estamos buscando um porto de águas profundas. Mas nós podemos mudar o nosso perfil de cargas, como já está acontecendo, e a vida do porto ainda será longa”, sustenta.

O diretor explica que o porto funciona como uma base de apoio ao trabalho nas plataformas. “Desde a parte alimentícia até o pessoal que nelas vai trabalhar, incluindo todo o material usado na manutenção destas, tudo passa aqui pelo porto. Para nós, tem-se demonstrado uma atividade muito eficiente, porque é limpa, do ponto de vista ambiental, é muito dinâmica, do ponto de vista da praticidade, não ocupa muito espaço e remunera muito bem”, explica Amboss. De fato, o número de atracações de embarcações de supply (suprimentos), usadas no apoio às atividades da indústria do petróleo, cresceram 17,69% em 2012 na comparação com 2011, passando de 2.380 naquele ano para 2.601 no ano passado.

Com o Plano de Negócios 2012-2016 da Petrobras projetando investimentos de US$ 236,5 bilhões para o período, dos quais a área de Exploração e Produção receberá US$ 131,6 bilhões, a tendência é realmente de crescimento das atividades. “A prioridade absoluta da Petrobras é aumentar a produção de óleo, com investimentos pesados nas atividades de Exploração e Produção”, disse a presidente da companhia, Maria das Graças Foster, ao detalhar o Plano no Senado, em setembro do ano passado. Na ocasião, ela destacou o início da produção, naquele mês, do FPSO Cidade de Anchieta. A plataforma, localizada no campo de Baleia Azul, na porção capixaba da Bacia de Campos, produzirá petróleo de alto valor comercial (28 graus API) e tem capacidade para processar, diariamente, 100 mil barris de petróleo e 3,5 milhões m3 de gás. A produção inicial está estimada em 20 mil barris por dia (bpd).

Fonte: Folha de Vitória





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